Asma: Mitos e verdades sobre esta doença crónica que afeta 700 mil portugueses

O Dia Mundial da Asma, organizado pela Global Iniciative for Asthma (GINA) da Organização Mundial da Saúde (OMS, assinala-se esta terça-feira, 4 de maio, e tem como principal objetivo sensibilizar a população para uma das doenças crónicas mais prevalentes em todo o Mundo.

Em Portugal, esta patologia afeta 6,8% da população, ou seja, cerca de 700 mil portugueses. Ana Mendes, coordenadora do Grupo de Interesse de Asma da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica, esclarece ao nosso site os principais mitos associados a esta doença.

Mitos e verdades sobre a asma

Quem tem asma não deve fazer exercício físico?
A asma não é impeditiva da realização de atividade física, desde que o doente faça a medicação corretamente. Claro que, se a doença não estiver controlada, a realização do exercício fica limitada e pode até desencadear uma crise. No entanto, se asma estiver bem tratada e estável, não há qualquer problema. Aliás, vários atletas de alta competição com diagnóstico de asma, como por exemplo a Rosa Mota, já provaram que a asma não impede o exercício ao mais alto nível.

Estou bem. Preciso de fazer o meu inalador?
O tratamento da asma tem dois pontos principais: o controlo base da doença e o tratamento das crises. Os inaladores prescritos para o tratamento da crise são para fazer apenas nessas alturas, mas os inaladores prescritos para o tratamento base têm de ser feitos regularmente. A asma é uma doença crónica e o tratamento faz-se para controlar a inflamação que está sempre lá.

Tal como numa situação de hipertensão arterial não vamos tratar apenas quando houver sintomas. O objetivo é não ter sintomas ou, se os tiver, que surjam o menor número de vezes e com menor intensidade. Para isso, é mesmo essencial fazer a terapêutica com o inalador, mesmo quando não se sente nada, para que não se venha a sentir nada.

Os corticoides engordam?
Os corticoides administrados por via sistémica, ou seja, em comprimidos ou por via endovenosa, podem condicionar um aumento de peso, especialmente se forem tomados numa dose elevada repetidamente ou continuadamente. Os corticoides inalados, utilizados no tratamento base da asma, têm efeito ao nível dos brônquios onde está a inflamação e têm pouca absorção sistémica, pelo que não engordam, mesmo se feitos em dose mais elevada e diariamente.

A asma tem cura?
Não, a asma é uma doença crónica. Não tem cura, mas tem tratamento.

As asmas são todas iguais?
As asmas não são todas iguais, variam quer em características, como a idade de início, a associação ou não a alergias, a relação com o peso, o agravamento com alguns medicamentos… quer em gravidade, desde ligeiras a graves.

As terapêuticas de asma são iguais para todos os doentes?
Conforme já referido, as asmas não são todas iguais, assim como os doentes são todos diferentes. O tratamento faz-se para cada doente em particular e de acordo com o tipo e gravidade da asma. Por isso, pode dizer-se que há terapêuticas semelhantes, mas são todas diferentes.

É normal ter asma e viver com sintomas?
É habitual encontrar pessoas que têm asma e vivem com sintomas, mas não quer dizer seja normal! O doente com asma não pode, nem deve, habituar-se a ter limitações. O tratamento tem de ser adaptado e ajustado até não haver sintomas.

É possível ter asma e fazer uma vida normal?
Sim, a asma controlada permite uma vida normal. O ideal é chegarmos àquele ponto em que o doente não se lembra que tem asma, exceto quando chega a hora de fazer a medicação.

Estou grávida, tenho de parar a medicação?
A doente grávida não tem de parar a medicação da asma. Hoje em dia, os fármacos utilizados têm um perfil de segurança bem estabelecido para poderem ser utilizados durante a gravidez. Está demonstrado que parar a medicação pode conduzir a situações de baixa de oxigénio para o feto e, isso sim, pode causar alterações graves.

O parto é mais complicado para asmáticas?
O parto não é habitualmente mais complicado, mas o pós-parto pode, em algumas asmáticas, ser um período de maior atividade da asma e agravamento dos sintomas. Em todos os asmáticos deve haver uma reavaliação periódica do tratamento e, no caso das grávidas, essa avaliação deve ser feita a cada trimestre e no período pós-parto para adequar o tratamento.

Asma e obesidade estão relacionadas?
A obesidade está, muitas, vezes associada a casos de asma de mais difícil controlo. Não quer dizer que uma pessoa obesa tenha de ter asma, mas o asmático obeso terá uma maior probabilidade de ter uma doença mais difícil de controlar e de maior gravidade. Os mecanismos pelos quais isto acontece ainda não estão completamente estabelecidos e podem ter a ver com fatores mecânicos e com a presença de alguns mediadores inflamatórios.

A bomba da asma vicia?
A “bomba da asma” não vicia. Como já dito, o tratamento da asma faz-se de base para controlar a inflamação brônquica. Quando se suspende, a inflamação volta a instalar-se e os sintomas reaparecem, situação que, por vezes, o doente interpreta, erradamente, como “estar viciado”. Mas um asmático dizer que a “bomba vicia” é o mesmo que um doente míope dizer que usar óculos vicia, uma vez que, quando não os põe não consegue ver bem.

Asmáticos não podem ter animais domésticos?
Os asmáticos podem ter animais domésticos. Todavia, se a sua asma for de causa alérgica, com alergia documentada a algum animal, tem de se avaliar a relevância da mesma na descompensação da doença e considerar a necessidade de afastamento do animal ou de fazer tratamento específico para alergia.

As máscaras da covid-19 potenciam a asma?
As máscaras não potenciam a asma. As máscaras protegem da Covid 19 que pode potenciar sintomas e causar dificuldade respiratória, pelo que o seu uso é mandatório. Por vezes, pode dar uma sensação de secura da mucosa nasal, o que condiciona uma certa sensação de falta de ar, mas não quer dizer que seja agravamento da asma. Essa sensação pode ser atenuada usando um spray hidratante nasal de forma regular.

A asma passa de pais para filhos?
A asma tem um componente hereditário, por isso há uma maior probabilidade, mas não obrigatoriedade, de filhos de doentes asmáticos virem a ter asma.