Saúde e Bem-Estar

Divertículo de Meckel: Saiba tudo sobre esta malformação congénita

3 Maio, 2021

O divertículo de Meckel é uma malformação congénita. A maioria dos doentes não tem sintomas, mas quando estes aparecem, a cirurgia é obrigatória.

Até há pouco tempo, poucas pessoas tinham ouvido falar de divertículo de Meckel. No entanto, o facto de Rita Ferro Rodrigues ter partilhado nas redes sociais que o filho, de 10 anos, sofria deste mal, levou algumas pessoas a questionarem-se sobre o tema. Afinal, o que é o divertículo de Mekel?

É a malformação congénita mais frequente do tubo digestivo. Afeta ambos os sexos na mesma proporção, embora as suas complicações sejam mais frequentes no masculino. Em Portugal, a incidência é de 2 a 4% da população em geral. O médico Bessa Monteiro, coordenador da Unidade de Cirurgia Pediátrica do Hospital Lusíadas Porto, explica as principais dúvidas sobre esta doença.

Divertículo de Meckel: respostas às suas dúvidas

Como surge o divertículo de Meckel?

Trata-se da existência de uma deformidade em forma de saco que ocorre no intestino delgado, que apresenta todas as camadas do intestino e que pode estar situada entre os 30 e os 100 cm do cego.

É uma reminiscência do saco vitelino, que é uma estrutura do desenvolvimento do embrião, que serve para o nutrir e que, nas duas primeiras semanas se divide em duas porções: uma maior que vai originar o intestino; e outra menor, que vai regredindo à medida que vai sendo substituída pela placenta.

Com o crescimento, o intestino fetal separa-se do saco vitelino, deixando apenas uma comunicação (canal vitelino), que deve desaparecer entre a 5ª e a 7ª semana de gestação. Quando o canal vitelino persiste, podem ocorrer várias anomalias, das quais o divertículo de Meckel é o mais frequente.

Os doentes sintomáticos são, por norma, jovens e mais de metade com menos de 2/3 anos de vida.

Há uma idade em que este problema se manifesta mais?

O divertículo de Meckel pode existir sem nunca se manifestar, e a probabilidade de dar sintomas diminui à medida que a idade avança. Deriva de estruturas embriológicas que vão originar o tubo digestivo e onde se encontram células pluripotenciais (que podem dar origem a vários tecidos).

Isto pode significar que, na camada mucosa (a mais interior), ocorra com muita frequência a presença de tecido gástrico (mucosa ectópica). Este vai produzir, tal como no estômago, ácido clorídrico. O estômago está “preparado” para a sua presença, mas o intestino delgado, não. Os doentes sintomáticos são, por norma, jovens e mais de metade com menos de 2/3 anos de vida.

Quais os principais sintomas?

Podem ocorrer vários sintomas em função da forma e tamanho do divertículo e também da presença ou não de mucosa gástrica ectópica. A hemorragia, por ulceração (corrosão) intestinal pelo suco gástrico produzido pela mucosa gástrica e a obstrução intestinal predominam nas crianças, enquanto a inflamação (diverticulite), ocorre mais frequentemente nos adultos.

Nos idosos, pode também haver complicações neoplásicas, embora estas sejam raras. A hemorragia é a complicação mais frequente, estando associada à presença de mucosa do estomago ectópica. É mais comum nas crianças abaixo dos 2/3 anos e, como também referi, mais frequente no sexo masculino. Suspeita-se pela presença de sangue nas fezes que pode ser discreta ou massiva, sempre indolor.

Estas perdas podem ser lentas e pouco evidentes, provocando uma anemia inexplicada, ou mais intensas com fezes negras ou mesmo avermelhadas. Raramente a hemorragia é tão intensa que ponha em risco a vida do doente.

A obstrução intestinal, menos frequente, pode não ser diagnosticada pré-operatoriamente, sendo o diagnóstico efectuado apenas aquando da exploração cirúrgica. Aqui os sintomas são a dor, paragem de emissão de gases e fezes e vómitos que, no limite poderão ser fecaloides.

A diverticulite sendo rara, é mais comum nos adultos do sexo masculino e manifesta-se por dor abdominal com náuseas, vómitos e febre. Muitas vezes, confunde-se com apendicite aguda. A neoplasia é a complicação menos frequente e ocorre principalmente nos idosos.

Pode prevenir-se?

Não. É uma malformação congénita que, na maioria dos casos, nunca terá complicações, portanto, sintomatologia.

É necessário ter cuidados com a alimentação?

Não existe evidência que qualquer tipo de alimento possa originar complicações.

O diagnóstico é fácil?

Uma vez que o divertículo de Meckel não é uma patologia frequente e as suas complicações também não, o diagnóstico pode ser difícil. Na presença de sangue nas fezes, persistente numa criança pequena, devemos suspeitar da presença do divertículo e, sempre que se justifique, fazer a sua pesquisa com a utilização de uma cintigrafia com tecnécio 99, um isótopo que é captado pelas células gástricas e, portanto, vai deixar a marca no divertículo.

Muitas vezes, o diagnóstico apenas se consegue na intervenção cirúrgica. Noutras vezes o diagnóstico é incidental, ou seja feito no decorrer de uma intervenção cirúrgica por outra qualquer causa.

Quais os tratamentos? Quando é necessário recorrer à cirurgia?

Quando sintomático, ou seja, na presença de complicações, o tratamento é cirúrgico e consiste na remoção do divertículo ou de um pequeno segmento do intestino que o contém, utilizando-se sempre que possível a laparoscopia.

É algo que acompanha a criança para sempre? Que conselhos dá a estes doentes e respectivas famílias?

Como referi, o divertículo de Meckel é, na maioria dos casos, assintomático. Portanto, poderá acompanhar o doente toda a sua vida, embora ele nunca o saiba… Quando dá sintomas, a cirurgia é obrigatória e o problema fica resolvido.

Texto: Carla S. Rodrigues; Foto: Pixabay

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