Saúde e Bem-Estar

A psicoterapia em dez questões

7 Maio, 2021

A psicoterapia em dez questões

Lidar com as emoções nem sempre é fácil, por divórcio, mal de amor, morte, desemprego... são várias as razões. Saiba como a psicoterapia pode ajudar.

Psiquiatria, psicologia e psicoterapia. Nunca antes como agora ouvimos tanto esta última palavra. E percebe-se porquê. Numa altura em que a saúde mental necessita tanto de ajuda, todas as formas de o fazer são bem-vindas. Em dez questões com dez respostas, a Dra. Catarina Dinis elucida-nos sobre o que é a psicoterapia, como funciona e como ajuda a tratar a mente humana e os “males da alma”.

Como surge a psicoterapia? É uma novidade em termos de aconselhamento emocional?

A psicoterapia é um processo focado em ajudar um indivíduo, casais ou grupo de pessoas a resolver questões emocionais. Em alguns países também é conhecida como aconselhamento. Através da psicoterapia é possível aprender maneiras mais construtivas de lidar com as questões a que estamos submetidas diariamente e com as particularidades da vida pessoal, profissional ou familiar. Também pode ser um processo de apoio ao passar por um período difícil como o luto, as transições de carreira ou um divórcio.

O que diferencia a psicoterapia da psicologia?

Psicologia é a área da ciência que estuda a mente e o comportamento humano e as suas interações com o ambiente físico e social. A palavra provém dos termos gregos psico (alma) e logía (estudo). A abordagem do psicólogo clínico passa sobretudo por uma abordagem psicoterapêutica, apoio e aconselhamento psicológico. E é geralmente esta parte que cria alguma confusão.

Explique-nos melhor…

A psicoterapia é um processo, realizado maioritariamente por psicólogos e psiquiatras, mas que não visa apenas “resolver o problema”. Pode fazer-se uma psicoterapia com vista à intervenção num problema ou situação específica (patologia), mas também como forma de aumentar o autoconhecimento – insight – do sujeito (normalidade).

Que tipo de ajuda podemos encontrar nesta terapia? Explicando de uma forma simples, como consiste um tratamento?

A psicoterapia é útil para pessoas que desejam entender-se a si próprias quer nos seus comportamentos e reações como no seu mundo interno, seja para lidar com questões específicas que estão a enfrentar (depressão, perda, ansiedade, medos) ou para descobrir mais sobre si mesmas e a maneira como se relacionam com o mundo externo.
Através da psicoterapia, o indivíduo tem a oportunidade de criar e desenvolver uma ligação com o seu terapeuta e, através desse relacionamento, explorar as suas questões. Isso é realizado num ambiente seguro, confidencial e sem julgamentos, permitindo que a pessoa possa expressar-se livremente e perceber os aspetos da sua personalidade.

Como difere esta terapia de pessoa para pessoa?

A psicoterapia é um caminho muito diferente para cada pessoa. Para algumas, a angústia mental e emocional surge da sua dificuldade em compreender o seu verdadeiro “eu”, com todas as suas necessidades, aspirações, desejos, sonhos e lutas pessoais. Muitas vezes isso gera dificuldades em aceitar-se a si mesma, aos seus sentimentos, comportamentos e pensamentos. A autoestima começa a ficar muito frágil e o medo e as paralisações frente à vida começam a aparecer. Para outras pessoas, pode ser um momento de desafios, como luto, separação, problemas de saúde, problemas laborais, confusão, depressão, raiva e outros estados emocionais mais complexos.

Há quem fale muito que faz terapia a vida inteira, isso não nos torna dependentes do médico?

A psicoterapia geralmente tem uma duração variável, de alguns meses (psicoterapia de curto prazo) a alguns anos (psicoterapia de longo prazo). Isso depende das necessidades e desejo da pessoa, também dos aspetos emocionais e financeiros. É, no entanto, por vezes possível que mesmo um pequeno número de sessões seja especialmente útil. No decorrer do processo, tanto paciente como terapeuta vão sentindo que as questões, cada vez mais elaboradas, permitem ao paciente diminuir a frequência das sessões, até ao momento em que existe uma alta clínica. A dependência não é de todo desejada.

Podemos tratar qualquer problema do foro emocional através desta terapia?

Sem dúvida, não descartando nunca a necessidade de um eventual recurso à psiquiatria ou à neurologia. Algumas questões passarão por uma vertente também farmacológica. É um princípio básico da psicoterapia que, para entender o que acontece dentro de si mesma, as experiências de alguém, é preciso encontrar as palavras para descrevê-las. Na descoberta dessas palavras, o mundo emocional encontra expressão e as coisas começam a fazer sentido e encaixam-se.

Os sentimentos de confusão e angústia eventualmente diminuem em frequência e intensidade e torna-se mais fácil gerir os desafios da vida. Situações em que alguém se sentiu anteriormente num beco sem saída podem mudar. Abre-se uma nova esperança através da psicoterapia, fornecendo novas opções e caminhos a seguir.

Quem procura mais ajuda a nível emocional: homens ou mulheres? E em que idades? Casados ou solteiros?

Na última década tenho sentido cada vez menos esta diferença. Numa semana de consultório, as percentagens homem/mulher, casado/solteiro mostram um claro empate técnico.

Que tipo de problemas surgem nas suas consultas? Como estão as emoções dos portugueses agora?

Nos últimos meses intensificaram-se os problemas de ansiedade nas suas diferentes formas. Ataques de pânico, irritabilidade, insónia, distúrbios alimentares, depressão. Temos uma população bastante preocupada, sujeita a situações de stress em todas as áreas da sua vida, experienciando a novidade do medo, da insegurança e da morte a uma escala global. É assim natural que cada vez mais pessoas procurem ajuda especializada, a fim de validarem e superarem os momentos de maior angústia que vivem.

Que consequências vão ter na vida dos portugueses os problemas emocionais causados pela Covid-19 (direta ou indiretamente)? Problemas causados pelo distanciamento social, perda do emprego… e outros causados pela própria doença?

A nossa população é, sem sombra de dúvida, resiliente. Teremos a rápida capacidade de superar os nossos problemas, de fazer das fraquezas forças.

Dito isto, acredito que vivemos e iremos viver uma “pandemia da saúde mental”, com características muito especiais, em que será necessário apoiar aqueles que viram a sua vida ameaçada, na forma em que a viviam, pelos danos da doença em si, pela perda de entes queridos, pelo desemprego ou diminuição de rendimentos e ainda pelo medo que esta pandemia arrasta. Esperam-se principalmente altas taxas de depressão e ansiedade na população em geral.

Texto: Anabela Colaço

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